segunda-feira, 26 de maio de 2008

O que fazem os nosso políticos quando deixam o cargo?

Fernando Nogueira
Antes -Ministro da Presidência, Justiça e Defesa
Agora - Presidente do BCP Angola

José de Oliveira e Costa
Antes -Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais
Agora -Presidente do Banco Português de Negócios (BPN)

Rui Machete
Antes - Ministro dos Assuntos Sociais
Agora - Presidente do Conselho Superior do BPN; Presidente do Conselho Executivo da FLAD

Armando Vara
Antes - Ministro adjunto do Primeiro Ministro
Agora - Vice-Presidente do BCP

Paulo Teixeira Pinto
Antes - Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros
Agora - Presidente do BCP (Ex. - Depois de 3 anos de "trabalho", Saiu com 10 milhões de indemnização !!! e mais 35.000€ x 15 meses por ano até morrer...)

António Vitorino
Antes -Ministro da Presidência e da Defesa
Agora -Vice-Presidente da PT Internacional; Presidente da Assembleia Geral do Santander Totta - (e ainda umas "patacas" como comentador RTP)

Celeste Cardona
Antes - Ministra da Justiça
Agora - Vogal do CA da CGD

José Silveira Godinho
Antes - Secretário de Estado das Finanças
Agora - Administrador do BES

João de Deus Pinheiro
Antes - Ministro da Educação e Negócios Estrangeiros
Agora - Vogal do CA do Banco Privado Português.

Elias da Costa
Antes - Secretário de Estado da Construção e Habitação -
Agora - Conselho de Administração do BES

Ferreira do Amaral
Antes - Ministro das Obras Públicas (que entregou todas as pontes a jusante de Vila Franca de Xira à Lusoponte)
Agora - Presidente da Lusoponte, com quem se tem de renegociar o contrato.

Como se pode ver estes senhores fazem o que sabem fazer melhor.... adivinhem!!! Politica igual a centro de emprego... atenção só para amigos!!!

VD

Continua a não haver gangs!!!

CRIME JUNTA DEZ MIL JOVENS

O número de membros de ‘gangs’ em Portugal ultrapassou em 2001 a barreira dos dez mil indivíduos, confirmando-se a regra de crescimento dominante nos últimos anos. A conclusão, publicada em livro este ano, resulta de uma análise efectuada por José Barra da Costa, investigador e docente universitário, aos dados relativos ao ano passado recolhidos junto da PSP, da GNR e da PJ.

A palavra ‘gang’, que entrou no dia-a-dia de muitos portugueses com a vaga de assaltos na CREL, no Verão de 2000, regressou em força nas últimas semanas com a perseguição e morte de um traficante, Celé, e a detenção de um grupo da Margem Sul responsável pelo roubo de 18 caçadeiras num armeiro de Santiago do Cacém. “O pior ainda pode estar para vir”, alerta Barra da Costa.

De acordo com a recolha de dados do investigador, o número de indivíduos pertencentes a ‘gangs’ mais do que duplicou nos últimos quatro anos. “Em 1998 estes grupos reuniam 4 691 membros contra 10 655 em 2001. Pecar, só se for por defeito, porque em alguns casos os miúdos são menores e nem são abertos os processos-crime”, diz, recusando casos de duplicação: “São muito raros”. Em 1999, o número era de 6 306 e em 2000 subiu para 8 900. “O futuro pode ser de crescimento exponencial”, avisa o investigador.

Não só em número mas também em género. “Actualmente, as raparigas ligam-se aos ‘gangs’ para estarem perto do chefe, mas em breve poderemos começar a ver ‘gangs’ apenas de raparigas. Ainda não há, mas é provável”, diz Barra da Costa.
Mais reservado, o investigador João Sebastião, do ISCTE, lembra que os ‘gangs’ já existem há muito tempo e que “é impossível afirmar o que pode acontecer no futuro”. “Há vinte anos, dizia-se que a criminalidade derivava da extrema pobreza. Mas ela acabou e o crime continua”, refere.

No entanto, os dois investigadores concordam quanto às origens do problema. “A verdade é que para um conjunto de crianças o bairro é a única alternativa de integração e socialização, porque tudo o resto falha”, explica João Sebastião.

MUNDO NO BAIRRIO

“Sem emprego para os pais, não podemos esperar bons resultados para os filhos”, sentencia, por seu lado, o docente universitário Barra da Costa.
“O miúdo percebe desde cedo que o pai não tem emprego e não vai passar férias ao Algarve, que ele próprio nem férias vai ter. Mas vê as férias dos outros na televisão e nos jornais. Ou seja, ainda não fez mal a ninguém e já está a pagar por isso.”

Com o mundo resumido ao bairro, é natural que os modelos sejam locais. “O objectivo de grande parte desses jovens será igualar ou ser melhor do que o melhor do bairro”, adianta Barra da Costa. “Ele vai querer ser o melhor no seu campo e vai subir tanto mais quanto melhor for no tráfico ou no furto. E este caminho, de violência, é o de muitos miúdos todos os dias”.

O percurso de Osvaldo Vaz, o Celé, traficante morto há duas semanas por elementos do Grupo de Operações Especiais da PSP, foi semelhante. Considerado “muito violento”, o indivíduo de 27 anos começou com furtos, assaltos à mão armada e depressa passou para as cobranças difíceis a dívidas resultantes do tráfico de droga. Culminou com o homicídio de um polícia na Holanda e... com a sua morte às mãos da Políca.

No dia 28 de Outubro, um grupo de indivíduos da Margem Sul roubou 18 caçadeira de um armeiro em Santiago do Cacém. “O primeiro passo neste tipo de situação é serrar os canos... Depois é distribuir, vender ou usar”, diz Barra da Costa. No caso, foram distribuídas e usadas em assaltos a bombas de gasolina. Três numa noite e uma quarta que falhou. Foram detidos quinta-feira.

A acção fez lembrar os ‘raides’ do Bando da CREL no Verão de 2000. As motivações são semelhantes: conseguir dinheiro fácil e estatuto no seio do grupo. O resultado também pode ser semelhante. Prisão. “O problema é que quem entra no gang, já não sai”, afirma o investigador Barra da Costa.

DOIS JOVENS À PROCURA DE FUTURO NUM BAIRRO PERIFÉRICO

O bairro é na periferia de Lisboa e pode ser qualquer um. O carro que desce devagar as ruas mal iluminadas pode ser qualquer um, desde que tenha a música no máximo. A conversa sobre os ‘gangs’ será fora do bairro, numa noite de muita chuva, com dois jovens à procura de um futuro num presente de violência. Os bons, os maus e os mais ou menos convivem diariamente nas ruas estreitas, fazendo escolhas a cada momento e em cada esquina.

No local combinado, Ronaldo, nome fictício escolhido pelo próprio, 17 anos, chapéu de pala na cabeça, parece indiferente ao mau tempo, olhar fugidio, sempre à procura de algo que o descanse. As perguntas incomodam e as respostas, por muito que garanta, parecem sempre incompletas. “Os meus amigos estão sempre a dizer-me para ir com eles fazer isto e aquilo”. Isto e aquilo são assaltos. “Mas eu nunca fui”.

"Estudei até ao sétimo ano e desisti. Não desisti, saí da escola porque fazia muita porcaria e mandavam-me para os colégios”. A porcaria era agredir professores e alunos e era também tirar dinheiro aos colegas. Tinha 14 anos. Nas etapas da reinserção social, ‘ os colégios’, esteve em Coimbra. “Depois de sair do colégio mudei um bocado. Eu vi o que passei lá dentro. Estive de castigo um mês e tal e às vezes batiam-me”, diz.

Agora não estuda, nem trabalha, nem tem perspectivas de o fazer. “O que é que eu gostava de fazer? Jogar à bola! É isso, jogar à bola. Se não der, fico parado”, admite. É o mais velho de cinco irmãos, três raparigas e dois rapazes. E graças aos amigos, já foi muitas vezes parar à esquadra. “Só uma vez é que apanhei um estalo...”

Figo, nome fictício escolhido pelo próprio, tem 16 anos e também gosta de jogar ao ataque. O cabelo está apanhado atrás da cabeça numa trança curta e escondida pelo gorro de lã. Encosta-se com um braço à rede, cruza a perna apoiando o pé no chão. Está a estudar num curso de carpintaria, que dá equivalência ao nono ano. "Não quis continuar na escola, nunca ia às aulas".

Para já, não recebe dinheiro. Os pais trabalham, tem oito irmãos, quatro rapazes, quatro raparigas. "Estou no meio". Sente o mesmo em relação a Portugal e a Cabo Verde, ou não morasse numa ilha cabo-verdiana às portas da capital. E quando quer dinheiro? “Peço aos meus pais ou às minhas tias”. Insiste-se. Olha à volta, esboça um sorriso tímido e lá admite. "Às vezes assalto uns miúdos". Já o fez sozinho, já o fez em grupo. Mas, garante, nunca fez outras coisas... "É mais perigoso, mais pesado". Se conseguir, diz, gostava de morar fora do bairro onde vive. "Mas se não der, fico por cá". Já foi preso duas vezes, mas nunca por ter feito um assalto. “Uma vez risquei o carro de um professor e a outra foi por andar sem passe nos transportes púlicos.”

POLÍCIA VÊ CADA VEZ MAIS DROGAS DURAS E SINTÉCTICAS

A par do crescimento do número de elementos de ‘gangs’, as forças policiais no terreno notam que, entre os seus membros, o já “banal” haxixe está a ser substituído por um consumo crescente de comprimidos de ‘ecstasy’ e cocaína - a ‘droga dos ricos’. “Além disso, os miúdos chegam cada vez mais cedo a este tipo de vida”, garante ao CM um responsável das Brigadas Anticrime e de Investigação Criminal de uma das divisões do Comando de Lisboa da PSP: “O dinheiro que eles conseguem com os assaltos ainda é usado para as compras ‘tradicionais’, como telemóveis, roupa, tudo o que possa servir como afirmação perante os outros. Mas também serve cada vez mais para saídas à noite”, afirma o responsável da PSP.

Discotecas, bares, carros, namoradas. “É um ritmo de vida muito intenso, compensado com drogas como a cocaína ou o ‘ecstasy’, duas drogas que têm vindo a ganhar terreno face ao consumo de haxixe, que já é banal”, esclarece.

De acordo com dados das Polícias, que constam do Relatório de Segurança Interna do ano 2001, a criminalidade grupal e juvenil registou um aumento de 34 por cento em relação ao ano anterior, mantendo-se a incidência geográfica: Lisboa, Porto e Setúbal. “O principal problema com este tipo de crimes é o seu carácter imprevisível. As coisas acontecem quase quando são pensadas”, esclarece o responsável das Brigadas.

A mobilidade e a composição volátil dos bandos também jogam contra as autoridades. “Facilmente roubam um carro e se livram dele”. Depois, continua a fonte policial, “o que acontece é que há dois ou três elementos fixos e muitos ocasionais, que se limitam a conduzir ou a vigiar apenas num assalto ou noutro”.
Ourivesarias, pelo ouro, bombas de gasolina, pelo dinheiro em caixa, ou armeiros, por razões óbvias, continuam a ser os alvos preferidos dos ‘gangs’. “No caso das armas, o mais certo é serem usadas em novos assaltos”, refere um outro elemento da PSP. Mais recente parece ser a inclinação por lojas de telemóveis, arrombadas com recurso a carros furtados.

O QUE SÃO GRUPOS, BANDOS E ‘GANGS’?

São três realidades diferentes, embora possam parecer uma e a mesma coisa. Se ao grupo de amigos não está associado directamente qualquer comportamento desviante, o ‘gang’ tem nos actos anti-sociais o seu padrão de comportamento. Algures entre os dois, está o bando. “O 'gang' é um bando reduzido, 4/5 pessoas, e os seus encontros não são episódicos.

Tem uma organização perfeitamente hierarquizada e há casos de indivíduos que pertencem a mais do que um ‘gang’”, explica Barra da Costa. Já o bando é um conjunto de indivíduos que pode ir até 20/30 elementos, sem qualquer organização.

CAPÍTULOS

VERÃO DE 2000: O País ficou espantado. Um ‘gang’ assaltava bomba de gasolina atrás de bomba de gasolina às portas de Lisboa. Na CREL, os assaltantes chegaram a roubar uma estação de serviço enquanto a Polícia se encontrava no outro lado a investigar uma ocorrência anterior. Os responsáveis acabaram por ser detidos num processo que se transformou numa guerra entre a PJ e a PSP. Pelo meio, a actriz Lídia Franco queixou-se de uma tentativa de violação.

CELÉ: A história de Osvaldo Vaz, de 27 anos, acabou com 42 tiros. Traficante, homicida condenado, fez um percurso semelhante ao de muitos membros de ‘gangs’. Começou com pequenos furtos, assaltos à mão armada, tráfico de droga. Entrava e saía da prisão, até escapar para a Holanda - onde seria condenado a 24 anos de cadeia pela morte de um polícia.

MARGEM SUL: É o caso mais recente envolvendo ‘gangs’. Tal com o CM noticiou, 18 caçadeiras roubadas em Santiago do Cacém, há uma semana, foram utilizadas numa noite de assaltos a bombas de gasolina. O grupo responsável pelos crimes, dividido em núcleos operacionais de quatro ou cinco jovens, foi detido na quinta-feira.

IMAGINÁRIO

A associação aos ‘gangs’ norte-americanos é inevitável para investigadores e jovens, cada um, claro, à sua maneira. A música, com letras violentas, críticas e agressivas, é o rosto de todo um estilo de vida. Puff Daddy e Snoop Doggy Dog são dois nomes de um universo de luxo, mulheres bonitas, jóias e armas, tudo reunido em vídeos musicais. As roupas são das melhores marcas, mas podem também funcionar como uma marca específica dos elementos do grupo.

HISTÓRIA

E se os ‘gangs’ já existissem no século passado? João Sebastião, investigador do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), defende que os ‘gangs’ não são uma invenção recente. “Nos bairros típicos de Lisboa, como Alfama, Alcântara, Bairro Alto, existiam grupos de rapazes com comportamentos deste tipo”, defende João Sebastião. “E já no final do século XIX existiam grupos de rapazes que viviam dos furtos”, explica o investigador do ISCTE.

RELATÓRIO

São três páginas do Relatório de Segurança Interna de 2001 sobre delinquência grupal e juvenil. No documento admite-se que, a par dos crimes e das chamadas ‘incivilidades’, “só a passagem desses grupos numa rua pode criar um medo generalizado do crime, em muitos casos injustificado”. A via pública é o local onde se registam mais incidentes (82 por cento do total). Os indivíduos actuam quase sempre de cara descoberta. Recorrem a armas brancas e actuam de noite.

Ricardo Marques
------------------------------------------------------------------------------------------------

Como se pode ver não há gangs em Portugal é tudo alarmismos dos jornalistas. É também como a crise, ela não existe... pelo menos para os políticos em Portugal pois está claro.

VD

Quando se bate no fundo, as verdades aparecem

Da identidade e acções dos terroristas à absolvição final, a obra ‘O Terrorismo e as FP 25 anos depois’ percorre quase toda a saga da organização terrorista que operou na democracia portuguesa. O seu autor não hesita em apontar o dedo: “No processo de pedofilia da Casa Pia há nomes que não apareceram porque foram negociados nas amnistias das FP”, diz.

A acusação abrange políticos, governantes e Ministério Público. É aquilo que apelida de “acordos políticos e judiciários feitos com criminosos terroristas”. Explica a privatização do Terrorismo e afirma que em Portugal ninguém perdeu dinheiro com as FP. Nem os bancos. Fala das centenas de armas que nunca foram recuperadas, mas diz que não tem medo. Afirma que passados estes anos ficou um respeito mútuo entre os operacionais da PJ e os das FP. Cada um no seu lugar... Os outros, que se escudaram discretamente no legalismo, diz, não avançam porque esses é que têm medo.

José Barra da Costa, foi o investigador da Judiciária que liderou a infiltração e caça às FP 25 de Abril. Ele e mais três colegas fizeram-se passar por padre, jornalista, fotógrafo e até por gente dos serviços secretos. Três dos oito anos da investigação foram vividos na clandestinidade. Igual à dos terroristas. “Chegámos a viver no mesmo prédio”.

Hoje, à distancia dos anos, o antigo inspector-chefe da Judiciária, regista a visão histórica dos factos, mas não resiste a imprimir emoções e revoltas. Reconhece-o, por exemplo, quando agradece a colaboração para este livro ao operacional que foi acusado de ter morto amigos seus. Ao longo de ‘O Terrorismo e as FP 25 anos depois’ e da entrevista que nos concedeu há um alerta permanente: “Afirmo neste livro que o descontentamento pode potenciar o aparecimento de novos grupos terroristas. E há um descontentamento social e etnico no horizonte português”. Do fenómeno do terrorismo à luta armada Barra da Costa esmiuça tudo. Quadros, acções, enquadramentos jurídicos e operações. Tudo contado em pormenor, mas sempre polvilhado de uma emoção que não esconde.

Correio da Manhã – O que é que o motivou a escrever este livro?

Barra da Costa – A Injustiça. A luta armada é apenas uma via. As dezenas de mortos e não sei quantos feridos. E para que alguns académicos relembrem que os doutoramentos só devem ser feitos com base na própria obra.

– Refere relações conspícuas e acordos safardanas. Quais?

– Não se pense que as coisas estão esquecidas. Houve acordos políticos e judiciários feitos com criminosos terroristas.

– Está a dizer que o Estado fez acordos com terroristas?

– Sim. Mas as provas só serviram para incriminar os arrependidos. Aos outros terroristas foi proporcionado escapar por entre as malhas da lei... Esbateram provas, disseminaram culpas e até conseguiram baralhar processos. Mário Soares rematou tudo com um indulto e o Ministério Público com outro.

– O Ministério Público?

– Os senhores procuradores decidiram não recorrer esquecendo os crimes de sangue e a associação criminosa. É um indulto mascarado. Ele há indultos, esquecimentos e amnistias.

Isto para mim é bem mas violento do que a morte de todas as pessoas envolvidas. É Violência Estrutural.

– Fala nos troca-tintas do passado que hoje se passeiam pelos salões. Quais?

– Da Assembleia da República por exemplo. Os que saíram da LUAR e não tiveram coragem de se assumir FP. Os que passaram pelos GDUP, UDP, PCP, MES e que hoje são do PSD e do PS.

– Dispara para quase todos os partidos. Pessoas é que não aponta...

– Vá aos livros e jornais, faça a comparação e veja quem são alguns.

– Houve traições?

– Entre os operacionais. No final já havia quem assaltasse por conta própria.

– Privatizaram o Terrorismo?

– Alguns reconhecem hoje que só o fim das FP-25 acabou com os oportunismos. Poucos se assumiram operacionais.

– E influências internacionais?

– Isso lê-se nas actas apreendidas às FP. Havia quem estivesse a favor das mortes e quem estivesse contra. O Otelo disse à saída do julgamento que o José Barradas era apenas um desgraçado pescador e não percebia nada de política. Verdade. Era tão desgraçado que nem foi convidado pela CIA dois anos antes para fazer o 25 de Abril...

– Houve mão da CIA nas FP?

– Americanos e franceses quiseram provocar o afundamento deste País.

– Mas isso é dizer que a direita controlou a extrema-esquerda?

– Financiou-a que é pior. Financiaram quem criou o caos para demonstrar que a democracia e o pós-25 de Abril eram uma farsa.

– Os extremos tocaram-se?

– São as partes mais facilmente infiltraveis nessas organizações.

– Quem é que está à frente dessas organizações?

– Invariavelmente intelectuais. Alguns mudam de partido de tempos a tempos. No processo de pedofilia da Casa Pia há nomes de pessoas que ainda não apareceram e ninguém percebe porquê. Foram negociados nas amnistias das FP.

– Dê-me um só exemplo?

No final dos anos 80 algumas pessoas da política reuniram com elementos das FP-25 para estudarem as amnistias. Nessa reunião foram apresentadas fotografias sobre pedofilia para pressionar o Governo a dar indultos e amnistias. Essas fotografias hoje não aparecem, mas na altura estavam em cima da mesa como moeda de troca. O Terrorismo é uma espécie de Pedofilia da Democracia.

– Lembra-se de algum nome?

– Lembro. Mas não digo. Nem digo o dos oportunistas que ainda hoje vivem à custa disso. Limito-me a vê-los. Eles sabem que eu sei. Mas há mais pessoas que sabem.

– Essa parece uma frase do Octávio Machado.

– Este livro é sobre factos. No processo Casa Pia há dezenas de elementos e de apontamentos que nunca vieram a público. Mas mesmo não estando nos autos, existem.

– E nunca foram denunciados porquê?

– A arraia miúda mesmo que os chefes falem nunca acredita. Os que andaram aos tiros, a fugir e a esconder-se faziam aquilo em que acreditavam. Os apoiantes discretos vivem hoje como se nunca tivessem feito parte da Organização.

– É a tese das instituições infiltradas?

– Não é tese. Os assaltos eram indemnizados por companhias de seguros que por sua vez foram reembolsadas por seguradoras estrangeiras. Em Portugal ninguém perdeu dinheiro com as FP. O assalto dos 108 mil contos aconteceu porque havia informação interna. O dinheiro foi reembolsado ao banco pela seguradora.

– Qual o destino dos 108 mil contos?

– Dívidas e financiamentos. Firmas de Import/Export, carros e empresas. E advogados revolucionários que cobravam às FP nove mil contos para a defesa. E muita gente recuada em Moçambique e na Argélia. E o financiamento de jornais.

– Quais jornais?

– Toda a gente sabe. Dois semanários e uma estação de rádio, hoje muito conhecida.

– Nome?

– Todos sabemos...

– Eu não!

Paciência.

– Também fala de infiltrados das FP na polícia?

– Há pessoas que antes de serem polícias, já eram conhecidos elementos de organizações terroristas.

– Foi portanto com o que esse conceito implica que escolheu a sua equipa para investigar as FP? Que relações mantém hoje com essas pessoas que recrutou?

– As mesmas que têm os operacionais depois da guerra. Vêem-se uma vez por ano. Sabiam antecipadamente que iriamos ser tratados como carne para cão. Seleccionei-os na escola da PJ. Três pessoas que se infiltraram em vários quadrantes com resultados excelentes. Ninguém os conhecia.

– É verdade que formalmente os quatro nunca operaram?

– Pode ser. O trabalho era canalizado para a área das informações, mas antes, por conta própria, cruzávamos tudo com as investigações no terreno. O ministro da Justiça (Rui Machete) que não cheguei a conhecer, não queria (”nem podia”...) saber de nada, apenas queria que se acabasse com as FP-25.

– Viveram na clandestinidade?

– Os políticos queriam desesperadamente mostrar ao povo que a coisa já estava controlada. Para mim, estava apenas a servir o meu País. Passei por padre, arquitecto, jornalista, fotógrafo e até por homem da Secreta. Três anos sem crachá. Literalmente ‘undercover’ com BI, cartas de condução, arrendamentos, tudo falso. Tudo como o inimigo. E por vezes a viver no mesmo prédio que o inimigo.

– No mesmo prédio?

– Pois. Há escutas que ainda hoje lá estão. Não houve condições para desmontar tudo. Há segredos que ainda hoje são inenarráveis.

– Por onde é que começou?

– O primeiro objectivo foi apanhar-lhes um erro.

– Qual foi?

– Abandonarem os primeiros detidos. Sem apoio, sem visitas, sem família, receberam colo precisamente de quem fugiam. Nós.

– Mas se estavam presos?

– Melhorámos-lhes as condições e transferimo-los para prisões perto das famílias. Aos poucos ganhamos-lhes a confiança.

– As armas das FP (nunca recuperadas) continuam em “boas mãos”?

– Continuam, digamos, “guardadas”. Há ideias eternas.

– Sabe do paradeiro de algumas?

– Sabem os ex-operacionais das FP.

– Quantas andarão ainda à solta?

– Centenas, à vontade.

– Os ex-FP são hoje cidadãos recuperados para a sociedade?

– A maioria deles sim. Para a Democracia não sei.

– Está-me a dizer que alguns podem regressar à actividade?

– Claro. O descontentamento social e étnico está no horizonte.

– Nunca teve medo?

– Continuo a andar desarmado e sem segurança.

'AS FERIDAS DEIXAM CICATRIZES'

– Na sua actividade televisiva trabalha com Luís Gobern, ex-operacional das FP-25 Abril. É fácil conviver com quem foi acusado de ser assassino dos seus amigos?

– Pode até parecer promíscuo, mas é já uma relação de amizade. Não esqueci. As feridas deixam cicatrizes, mas doem-me mais as traições do Estado. Os oportunistas deste processo que vivem em Bruxelas cheios de segurança, nos Ministérios, na AR... Isso para mim é bem mais violento do que a morte de todas as pessoas envolvidas. É a Violência Estrutural. Nas estradas morrem duas mil pessoas por ano e doi menos ao País. Estas coisas só se percebem quando a gente as vive. É possível conviver com os assassinos dos nossos amigos, considerando as questões do tempo e as circunstâncias. Eu também fiz coisas que não devia e assumo-as. Porquê? Porque tinha a profissão mais linda do mundo. E isso valia tudo. Inclusive as traições que me foram feitas, na própria polícia para quem eu trabalhava.

– É isso que o faz temer mais a inveja de alguns polícias do que a fúria dos guerrilheiros, como escreveu?

– Os polícias são seres humanos. Mas quem tem invejas tem poucos ideais. Do outro lado também havia seres humanos mas tinham ideais. A polícia não. Se não, já tinham lutado para não serem a bengala do Ministério Público.

PERFIL

José Barra da Costa tem 53 anos.

Mestre em Relações Interculturais, pós-graduado em Ciencias Criminais e em Estudos Psico-Criminais, é antropólogo de formação, mas assume-se, “antes de mais polícia”. O País conhece-o da televisão, mas a carreira de Barra da Costa começou na Polícia Judiciária (PJ) há mais de trintra anos, no Porto. A investigação que fez às FP 25 Abril é, no seu dizer, “apenas mais uma”, mas as consequencias da caça aos primeiros terroristas da democracia deixaram-lhe marcas indeléveis. Os quatro anos que passou depois no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras foram vistos por muitos como uma promoção. Para Barra da Costa foi apenas “uma manobra para afastar quem é incómodo”. O Inspector-chefe da PJ ainda regressou à casa-mãe, mas retirou-se pouco depois. Hoje é professor universitário e formador de investigação criminal. Ao ritmo de um por ano, vem publicando vários trabalhos na área das ciências criminais.

O último é ‘O Terrorismo e as FP 25 anos depois’.

EQUIPAMENTO MILITAR

Em todas as acções, os homens das FP usavam luvas, meias de nylon e gorros. Empunhavam diverso material de guerra que ia das pistolas metralhadoras de calibre 9 mm, às pistolas Walther de 9 e 7,65 mm. Granadas defensivas e ofensivas fizeram também parte do arsenal utilizado. Parte dele roubado às Forças Armadas Portuguesas, outro, comprado em lugares tão distantes como a Argélia ou a Líbia, onde também alguns receberam formação militar. Nas fileiras das FP-25 Abril militaram ex- operacionais das PRP-BR e das operações especiais portuguesas. O Ultramar português tinha acabado há pouco. Comandos, fuzileiros e outros foram recrutados com sucesso pelas FP-25 de Abril. Há especialistas que afirmam que as últimas acções foram já executadas por grupos isolados da Organização, para proveito próprio.

TRÊS DEZENAS E MEIA DE ASSALTOS

O assalto à tesouraria das Finanças de Sintra, em 27 de Fevereiro de 1980, inaugurou o período de terror das FP-25 Abril. Ao longo de quase 10 anos, provocaram uma vintena de mortes e um número nunca totalmente apurado de feridos.

Para conseguir meio milhão de contos as FP 25 de Abril levaram a cabo três dezenas e meia de assaltos. Acções de “recuperação” ou de “recolhas de fundos”, cujos proventos se destinavam a subsidiar a organização. Há quem defenda que uma percentagem das maquias “recolhidas” reverteu a favor dos operacionais.

O restante, sabe-se, foi utilizado para sustentar elementos na clandestinidade, salários, abonos, viagens, treino, compra de armas, carros e arrendamento de imóveis.

Quase todas as acções foram reivindicadas pela organização através de comunicados e cassetes enviadas aos órgãos de comunicação da época.